16 de jan. de 2012

A falta de justiça, a fonte de todo nosso descrédito

Grande discurso de Rui Barbosa pronunciado em uma sessão do Senado federal em 1914. Produzido a quase 100 anos, para denunciar injustiças da época, o texto ressoa atualismo, e nos leva a refletir sobre as transformações negativas, que assolam a nossa sociedade.
Segundo Rogério Chociay pesquisador da UNESP, trata-se de uma ressonância que se torna emblema nacional da indignação contra a injustiça e a desonestidade, pois trata de um feliz encontro entre um tema, ainda hoje infelizmente atual, e uma forma erigida magistralmente, num momento mágico, para expressá-lo.

A falta de justiça, a fonte de todo nosso descrédito

A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.
A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.
A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, ... promove a desonestidade, promove a venalidade ... 
... promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto
Essa foi a obra da República nos últimos anos 

  Os vícios que encorparão a frase-pico já se apontam nas anteriores. 
cor Os valore a preservar, cuja quebra conduz o país ao descrédito e o orador à indignação
cor As reações no estrangeiro não são apenas de ordem moral
cor As reações dos homens decentes
cor O efeito danoso da injustiça sobre as novas gerações
cor Numa sociedade em que os vícios se tornam virtudes, os indivíduos perdem a fibra,  severidade e se tornam vis, aduladores e venais                                                              
cor As orações iniciadas por "de tanto" constroem, em série ascendente, uma causa, clímax da injustiça: os poderes nas mãos dos maus. As restantes constroem em série um efeito, clímax do desânimo, a vergonha de ser honesto, que, sob o ponto de vista ético, é anticlímax: O agigantamento dos poderes  nas mãos dos maus gera reações dos homens bons. Mas da atitude de desânimo e vergonha, manifestada com tal vigor retórico, emana maior força moral que um brado de protesto.

 Fonte: Revista Língua Portuguesa, Nº 52, Ano 4



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