Histórico de Jardim





Jardim-ceará


Somente a partir de 1792 teve início o povoamento de Jardim, não obstante o esboço de colonização realizado nas terras do atual município, em fins do século XVIL. Realmente, já em 1763, residia no Sítio Corrente do Ramalho, hoje Correntinho, Bento Monteiro, casado com Sebastiana de Oliveira. Segundo João Brígido, até 1792, do local em que está hoje a cidade, o colono que mais se avizinhava era um pobre lavrador, com casa a meia légua, no Sítio Cabeça do Negro.

Isolado dos núcleos de população do Cariri, pelo ramo meridional da Serra do Araripe, o recôncavo jardinense não participou da imigração que povoava Missão Velha e Crato, ou por escassez de contingente humano, ou pelos efeitos das secas que assolaram a região, das quais se destaca a de partir de 1725, que fez secar até as correntes do Cariri. No decorrer da “seca grande”, começada em 1791 e terminada em 1793, encaminhou-se para as cabeceiras do Riacho dos Porcos considerável número de famílias dos sertões do Rio São Francisco.

O primeiro imigrante foi o Padre João Bandeira de Melo, que chegou em Jardim no ano de 1792, acompanhado de índios e negros, vindo de Flores, onde catequizava os pajeús. Homem irrequieto, audaz e valente, o primeiro cuidado de Padre João Bandeira foi promover o plantio de alguns cereais e edificar uma casa de barro, no local em que existe a velha residência do Padre Antonio Manuel de Sousa, ainda hoje conservada como monumento histórico. Em seguida construiu uma capela ao Bom Jesus, atraindo para ali grande número de pessoas, cujas casinhas se agruparam junto à do capelão. Eis a origem de Jardim, antes Barra do Jardim e Santo Antonio do Jardim, antiga região indígena e, depois, palco de memoráveis acontecimentos históricos.

Cerca de oito anos depois, insofrido da vida sedentária que levava, o fundador de Jardim retitou-se como viera, de espada à cinta e acompanhado de um escravo. Embora baiano, dirigiu-se para Piancó, na Paraíba, de onde seguiu rumo ao Piauí, tendo passado em Porteiras, em cuja capela celebrou uma missa no dia 6 de janeiro de1821. Ainda em 1799, o povoado recebeu a visita pastoral de Frei Vital de Frascarolo. A passagem daquele missionário capuchinho ficou perpetuada num cruzeiro por ele erguido, no dia 29 de junho à frente da capela,que fora transplantado para o centro do Cemitério de São Miguel, onde ficou até o ano de por 57 anos, quando em 1999 por meio de um projeto da Secretaria de Cultura, o cruzeiro foi totalmente restaurado na sua forma original e recolocado no seu devido lugar.

O município foi criado pelo a Alvará régio de 30 de agosto de 1814, com território desmembrado do de Crato, quando passou a denominar-se Vila de Santo Antonio do Jardim. Deve-se sua elevação à categoria de vila, à forte rivalidade entre João Pereira Filgueiras, futuro capitão-mor do Crato, e o sargento-mor José Alexandre Corrêa Arnaud, descendente do povoador de Missão Velha, o qual, saindo da cadeia do Icó, em 1812, conseguiu do Regente Imperial, pessoalmente, a criação do município e sua nomeação para o cargo de capitão-mor da nova vila.

A instalação do município ocorreu em 3 de janeiro de 1816, a cujo ato não compareceu o capito-mor José Arnaud, por ter falecido no seu regresso do Rio de Janeiro. Com sua morte, foi nomeado capitão-mor do Jardim, Pedro Tavares Muniz.

Havendo passado a distrito policial a 18 de março 1842, Jardim veio a receber foros de cidade por efeito da Lei provincial n.○ 1829, de 3 de setembro de 1879. Na divisão administrativa correspondente ao ano de 1933, o município dividiu-se em dois distritos: Jardim e Macapá(atual Jatí). Desmembrado este por força da Lei número 1153, de 22 de novembro de 1951, foi criado um novo distrito sob a denominação de Jardim-Mirim.

Quanto a freguesia, foi criada por provisão de 11 de outubro de 1814, sendo seu primeiro vigário o Padre Antônio Manuel de Sousa, que assumiu as funções em fevereiro de 1816.

Naqueles tempos, ao lado de relevante prosperidade econômica, Jardim já usufruía notável posição no meio político-social do Cariri. Enquanto se estabeleceram fazendas de criar ao longo do Riacho dos Porcos no pequeno recôncavo multiplicaram-se os pomares. Trinta e quatro anos depois começavam a rodar os primeiros engenhos, graças à fertilidade do solo e à irrigação farta das nascentes araripeanas.

Por volta de 1817, a discórdia estava plantada entre Jardim e Crato, província de desavença de José Pereira Filgueiras e José Alexandre Corrêa Arnaud. A 5 de maio daquele ano, Jardim aderiu ao movimento iniciado em Crato no dia 3 de por José Martiniano de Alencar, hasteando solenemente a bandeira republicana de 17. Coube a liderança do movimento ao capitão Leonel Pereira de Alencar, Juiz ordinário da vila e irmão da heroína Bárbara de Alencar. Da adesão constou uma ata, que foi ditada por José Martiniano, a quem foi confiada a chefia da revolução no Ceará, pelos revolucionários do Recife.

Debelado o movimento no Cariri, Leonel Alencar foi pronunciado em 13 de setembro 1818, sem contudo ir à prisão. Mais tarde, a 28 de setembro de 1824, foi assassinado por Antônio Francisco de Melo, procurador da Câmara de Jardim que atacara a vila com um grupo de assassinos. Na mesma ocasião foram mortos Raimundo Pereira de Alencar, filho de Leonel, o tenente-coronel Bandeira e José da Costa Sozinho. Todos haviam tomado parte no Grande Conselho realizado em Fortaleza a 26 de agosto, pelo qual o Ceará se constituía Estado de Federação do Equador, tendo como presidente Tristão Gonçalves de Alencar Araripe. No dia 1.° do mês seguinte, chegou a Jardim, o capitão-mor Pereira Filgueiras, cujas forças, após ligeiro encontro com os imperialistas no Croatá, executaram 13 prisioneiros numa roda-de-pau. Deixando Jardim, Filgueiras confiou o comando da vila ao sargento-mor Antônio Geraldo de Carvalho Filgueiras, destinado a morrer heroicamente em Salvaterra, no dia 15, lutando contra os imperialistas. Estes, no dia 26 de outubro, depois de organizados em Jardim, marcharam sobre Crato, onde efetuaram saque e depredações.

Passados aqueles acontecimentos, novas lutas surgiram por ocasião da queda de Pedro I, da qual se aproveitaram os republicanos cratenses para mais uma devassa contra o coronel Joaquim Pinto Madeira, prestigioso chefe “corcunda” de 1817 e 1824, cujo nome se destacou nas chamadas guerras civis que ensanguentaram o Cariri. Sabedora dos preparativos que se faziam em Crato para uma expedição a Jardim, com o objetivo de levar à cadeia o famoso coronel de milícias, a câmara jardinense organizou um força , confiada ao comando do próprio caudilho do Coité. O exército “pintista” deixou Jardim a 17 de dezembro de 1831; bateu os legalistas no Sítio Buriti e no dia seguinte ocupou a vila inimiga, cuja população fugiu apavorada. Acompanhava a Pinto Madeira o padre Antônio Manuel de Sousa, vigário de Jardim, e vulgo “Benze-Cacêtes”.

Com a derrota dos abrilistas, Joaquim Pinto Madeira foi condenado à morte pela Câmara de Crato, a 26 de novembro de 1834, e fuzilado a 28, no alto do histórico Barro Vermelho. Quanto ao padre Antônio Manuel de Sousa esteve à frente da freguesia de Jardim até o dia 25 de setembro de 1857, quando faleceu, cego e octogenário, sendo substituído pelo padre Joaquim de Sá Barreto seu amparo na velhice e na pobreza.

Tendo sido termo judiciário pelo Alvará régio de 30 de agosto de 1814, que criou o município, Jardim foi elevada à categoria de comarca pela Lei provincial n.° 803, de 3 de agosto de 1857, sendo desmembrada da comarca de Crato. Em 1876 foram concluídos os trabalhos de construção da segunda matriz, iniciados no ano anterior pelo padre Joaquim de Sá Barreto, em substituição à segunda, que ruíra a 10 de dezembro de 1873, a qual fora edificada no mesmo local da primitiva capela construída pelo padre João Bandeira de Melo, onde atualmente se encontra a Praça de Nossa Senhora das Graças.

A 7 de agosto de 1887, num atestado de sua evolução cultural, Jardim fundou o Clube Literário Recreativo, cuja diretoria ficou assim constituída: Presidente – Doutor Gustavo Horácio de Fgueiredo; primeiro vice-presidente - Advogado Rodião de Sá Barreto; segundo vice-presidente – Alferes Prudêncio José de Freitas; primeiro secretário – Beneventura Álvares Couto; Tesoureiro – Virgolino Isidro Portela; Bibliotecário – Fausto Emílio José da Silva. Comissão de Estatutos: capitão Castriciano Marques de Gouveia, advogado Sebastião Batista Vaz e professor Antônio Jaime de Alencar Araripe. No dia 31 de dezembro de 1900, foi inaugurado o Cruzeiro do Século, no Monte Alegre, cuja bênção fora dada pelo padre Miguel Coelho de Sá Barreto, grande orador sacro, filho de Barbalha.

A 22 de novembro de 1908, foi fundado o jornal “A Pátria”, pelo tenete-coronel José Caminha de Anchieta Gondim, mais conhecido por coronel Dudé. Aquele jornal, produto de esforço e do idealismo do coronel Dudé, do qual ele fora diretor, secretário, tesoureiro, revisor e tipógrafo, circulou por mais de dez anos, em edições primorosas, nas quais brilhavam sua pena e as de outros intelectuais da terra.

Aos 24 de abril de 1916, realizou-se a fundação do Colégio 24 de Abril, pelo então Juiz de Direito, Dr. Francisco de Lima Botelho, intimorato batalhador do ensino nos sertões do Ceará.

Compunha o seu corpo docente dos seguintes professores: Dr. Juvêncio Joaquim de Santana , Juiz substituto - Geografia e História Natural; Tenente-coronel José Caminha de Anchieta Gondim, farmacêutico - Matemática; Antônio Ferreira de Melo Santiago, agente de telégrafo - Francês e Inglês; Dr. Joaquim Alves - História do Brasil e História Universal; Dr. Francisco de Lima Botelho - Português e Latim.

O Colégio funcionou ininterruptamente até meados de 1923, marcou o período áureo de Jardim. Em 16 de fevereiro de 1937, a velha cidade foi dotada de iluminação elétrica, por iniciativa do Prefeito Francisco Ancilon de Alencar Barros.

Fonte: Enciclopédia dos municípios brasileiros

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