15 de abr. de 2015

Compartilhando percepções sobre a Sociedade jardinense

Faz algum tempo  que tenho em mãos uma xerox de um pequeno livro escrito no ano de 1982, por um jardinense observador, que lança sobre a cidade um olhar crítico, dissertando sobre os seguintes temas: Sociedade, Cultura, Liderança, Juventude, Consciência democrática e Justiça.  De maneira ética e inteligente, o autor nos fornece informações que também nos conduz a analisar essa sociedade de modo  imparcial, sem aquela paixão partidária que move os moradores de Jardim.  A medida que que você vai lendo, um filme vai passando na sua cabeça. Você imagina uma sociedade antiga, anterior aos anos 80, a sociedade dos anos 80 e a atual. Na minha percepção, os escritos constituem um diagnostico da problemática jardinense.  E a resposta, a cura, pode estar dentro de cada um nós, quando formos capazes de deixar a paixão partidária de lado, olhar, analisar  e avaliar com  nossas próprias lentes e não pelas lentes dos partidos políticos e dos bobalhões paranoicos, que  em tudo, e em qualquer situação colocam a  politicagem em primeiro lugar.

(Não recebi nenhuma autorização para divulgar o nome do autor, apenas compartilhar alguns textos)


Eis um dos textos:
(Atente para o último parágrafo e compare com a realidade atual.)


A Sociedade

Ao fazer uma análise detalhada a respeito do comportamento da vida social de Jardim pode-se ter diversos fatores a analisar, todos eles  representando antes de tudo um grave problema para a comunidade.

Quando se coloca uma sociedade em estudo, deve-se ter a ideia de sua significação etimológica, sua importância histórica, seu valor presente e suas perspectivas futuras. Jardim caminha impecavelmente nos dois primeiros aspectos, ou seja, na etimologia da palavra e na importância histórica que teve dentro do Cariri nos séculos XIX e XX.

Jardim, historicamente falando, é uma cidade tradicional, devido sua grande participação nos acontecimentos políticos do século XIX, nas lutas pela Independência do Brasil. Neste aspecto é válido lembrar a atuação do Padre Antônio Manuel de Sousa, primeiro vigário de Jardim em 1814, também a grande influência da família Alencar que cedera para a formação histórica de Jardim nomes como: D. Bárbara de Alencar, Leonel Alencar, José Martiniano e tantos outros. Contemporâneo dessa época o Célebre Cel. Pinto Madeira muito contribuiu para a participação de Jardim nas lutas políticas daquela época.

Partindo deste ponto podemos ter ideia da consciência social que possuía o Jardim naqueles tempos remotos. Tal consciência construiu o caminho de uma sociedade que sempre evoluiu na sua mentalidade e brilhou entre as demais cidades interioranas. neste ponto Jardim possuía os melhores colégios do interior, uma igreja profundamente ativa, agremiações sociais como Círculo de Trabalhadores Cristãos, Lions, Jornal, cinema, teatro e uma vida social bastante razoável.

A partir da década de 50 começou, esta comunidade, a sofrer um profundo regresso, passando por transformações nos costumes vigentes, mas retrocedendo. Fecharam-se as agremiações, os colégios não progrediram na linha de cursos de 2° grau, acabaram-se as bandas de música, as famílias se fecharam em suas casas e começou o período da passividade social.
Essas mudanças, não aconteceram do dia para a noite. Elas se processaram durante as últimas três décadas sem que se notasse tal fenômeno. Nos anos 60 a juventude ainda tentou levantar o espírito social dentro dos colégios, entretanto as mudanças políticas da Revolução de 64, inibiram certos movimentos da classe estudantil.

Todavia a grande causa do atrofiamento social de Jardim foi uma acentuada crise de liderança frente aos cargos administrativos de instituições sociais. A partir de 1950 as facções políticas locais tem se revesado na direção da comunidade sem mostrar um mínimo de competência e de preocupação com a falência da sociedade.

Prevalecem antes de tudo o interesse pessoal ou de pequenos grupos. A competição pelo poder divide o povo e joga as famílias em verdadeiras batalhas eleitorais, tudo sem o mínimo de escrúpulo ou de idealismo social. A comunidade só é solicitada na hora do voto. Não existe uma participação do povo dentro do processo social porque, as regras são ditadas pelos interesses pessoais de cada grupo.
Sem possuir uma consciência civilizada a respeito desta realidade a cada dia o povo se atola nesta situação de desprezo e  entrega-se aos vícios sociais e a violência. Prossegue assim, a vida de um povo sem perspectiva de melhora nem esperanças futuras.